Sustentabilidade do uso da água no regadio
Auditório da EDIA / 15:00 / 6 de janeiro de 2015
Estiveram presentes 45 participantes, incluindo membros da APRH-NRS e da FENAREG, representantes de empresas da área agrícola e pecuária (Herdade do Morgado e Torre das Figueiras), empresas de sistemas de regadio, consultadoria, equipamentos e serviços na área de projetos de rega (EDIA; AQUAGRO; COBA; Tecnilab), administração central e regional (DGADR e DRAPA), associações de beneficiários (Roxo e Mira) e Associação de Agroecologia e Cultura Regenerativa, associações de apoio técnico (Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio, COTR), entre demais técnicos e agricultores.
Resumo dos Temas Tratados:
A 1ª intervenção, realizada pelo Eng.º Pedro Salema da EDIA, abordou o tema “Alqueva – quantidade e qualidade de água para rega” (PDF, 2066KB)
Enquadrar a quantidade e qualidade da água no empreendimento de Alqueva traduz-se na gestão deste recurso, que simultaneamente apresenta muita quantidade e boa qualidade (dentro das condições edafoclimáticas de região onde se insere). No empreendimento esta gestão é feita dentro do estipulado no Contrato de Concessão, celebrado entre o Estado Português e a EDIA. Em relação à quantidade, o balanço contempla discrepâncias temporais entre as afluências próprias, os caudais aduzidos, os volumes armazenados e as necessidades de rega. Em termos de qualidade, a EDIA um programa de monitorização alargado, de modo a avaliar a adequabilidade e adaptabilidade aos usos concessionados, não só na albufeira de Alqueva, desde o início do enchimento desta (Fevereiro de 2002), como em albufeiras periféricas. São muitos os exemplos de mecanismos e ferramentas de apoio à qualidade e quantidade de água no empreendimento, como o Sistemas de Informação Suporte à Monitorização.
Destacam-se, em termos de qualidade as ações de proteção e conservação dos recursos hídricos e redução de fontes de poluição; ao nível de quantidade é fomentada a utilização adequada da água na agricultura com emprego de tecnologias de rega eficientes; e em termos ambientais no que concerne a manutenção ecossistemas ribeirinhos e das respetivas funções ambientais, assim como a diminuição da pressão exercida sobre os recursos hídricos subterrâneos.
A 2ª intervenção, realizada pelo Prof. Ricardo Serralheiro da Universidade de Évora, tendo presente a sua longa experiência e formação apresentou o tema “Situação do Regadio face à Sustentabilidade do Sistema” (PDF, 2908KB);
A sustentabilidade do regadio resulta do equilíbrio entre o nível económico, social e ambiental e reside no uso conservativo e perpétuo dos recursos utilizados (solo, água, energia e biota). O inverso originará desertificação, como por exemplo com a do problema da salinidade, erosão (eutroficação) e lixiviação (contaminação). Estes, em termos tecnológicos, podem ser minimizados com o aumento da eficiência de aplicação da rega e a eficiência de transporte e distribuição nas redes primárias e secundárias. Face a cenários de alterações climáticas (aumento da temperatura e diminuição generalizada das disponibilidades hídricas) prevê‑se que, até 2070, haja uma agudização dos problemas que põe em causa a sustentabilidade do sistema associada a um aumento das necessidades de rega por cultura num quadro onde a área de sequeiro é substituída por regadio. Torna-se premente a investigação científica e a inovação tecnológica.
A 3ª intervenção, realizada pelo Eng.º Eugénio Sequeira, LPN, sobre “Regadio no Alentejo vs sustentabilidade” (PDF, 9993KB)
Com o aumento do índice de aridez em Portugal desde 1960, é agravada a quantidade e qualidade da água, pondo em cauda causa a sustentabilidade do uso do solo em regadio. O aumento da salinidade, por sucessiva ausência de lavagem de sais nos solos, resulta, entre outros, na falta de estabilidade da estrutura e respetivas consequências. Esta questão é agravada em sistemas que possuam já problemas a montante, como o sistema de Alqueva face à dependência de drenagem a partir de Espanha. Num todo, os efeitos negativos da construção de Alqueva não só em termos biológicos, com a destruição de habitats, mas igualmente sociais e económicos. Em regadio, num cenário de alterações climáticas, com a redução da fração de lavagem dos solos, o aumento dos sais nos solos é maior, provocando acumulação de sais à superfície, com impactos ainda mais severos nas águas de superfície e subterrâneas. Em termos de custos da água, verificam-se grandes contrastes entre o baixo custo dos sistemas de regadio tradicional face aos implementados nos aproveitamentos hidroagrícolas (já em parte não suportados pelos agricultores). Em Alqueva, a alternativa turística é duvidosa face ao previsto no início de projeto. No entanto, apresenta mais valias sociais mais elevadas comparativamente à agricultura, mas com elevado suto ambiental (e de qualidade da água) se junto ao plano de água. Será uma ferramenta muito valiosa se as unidades turísticas forem instaladas junto a aglomerados já existentes. No limite, a existência de sistemas tradicionais mistos (agro-silvo-pastoris com , áreas de floresta – montado – , sequeiro e pequenas áreas de regadio intensivo) apresentam menores riscos de desertificação, maiores rendimentos, maior estabilidade de emprego e resiliência às flutuações de mercado e às variações climáticas.
PRINCIPAIS CONCLUSÕES:
Após um longo debate de ideias em que nalgumas situações as posições colocadas e refutadas quer pelos oradores quer pela assistência foram bastante importante para o debate que acabou por prolongar-se por mais de duas horas ao que se pôde concluir alguns pontos consensuais:
- Existe uma dificuldade enorme em tratar os Nitratos sem que os lixiviados não contaminem os aquíferos, como exemplo, o Aquífero dos Gabros de Beja;
- Necessidade de proibir a utilização de furos ou poços nos perímetros de rega de Alqueva (utilizar somente os hidrantes), a APA-ARH Alentejo deixa essa “Cláusula” contudo não tem força de lei porque a ma não foi alterada de modo a que a mesma se aplica. Existe a necessidade urgente de alterar a lei;
- Ter em atenção os sais no solo e na água superficial;
- Ficou claro e aceite pela EDIA da necessidade de colocar também o parâmetro “Sais”, mas também perceber qual, ou seja, se K++, Mg++, K+, Na+;
- O controlo abusivo através do Uso Conservativo dos Drenos Toupeiros para controlo da salinidade está errado havendo a conexão direta às seguintes ações:
EROSÃO ———— EUTROFIZAÇÃO
LIXIVIAÇÃO ———— CONTAMINAÇÃO
- Será necessário mais Olival?
- Incentivar os produtores de Olival e agrícolas em geral a terem mais atenção à necessidade de controlo da erosão dos solos e a implementação de processos mais amigos do ambiente;
- A água em Alqueva é de BOA QUALIDADE para o uso na agricultura;
- A monitorização é de alta qualidade garantida por uma equipa jovem e competente na monitorização da qualidade da água em Alqueva;
- Problemas com a qualidade da água na Albufeira do Roxo, apontada por alguns membros, foi garantida pelo Presidente da Associação de Regantes do Roxo que tal situação foi pontual, devido aos anos de seca, e que atualmente é de ao qualidade;
- Qualidade na Rega, especialmente na gota a gota, que atualmente garante que somente seja debitada a necessidade hídrica da planta e a colocação necessária de nutrientes, sem excedentes.