Volume 12, Issue 1 - March 2012
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Revista de Gestão Costeira Integrada
Volume 12, Número 1, Março 2012, Páginas 101-118
DOI: 10.5894/rgci307
*
Submissão: 19 Outubro 2011; Avaliação: 15 Novembro 2011; Recepção da
versão revista: 25 Março 2012; Aceitação: 15 Abril 2012;
Disponibilização on-line: 7 Maio 2012
Ocupação do Litoral do Alentejo, Portugal: passado e presente *
Human Occupation of Littoral of Alentejo, Portugal: past and present
Maria Rosário Bastos @, 1, João A. Dias 2, Manuela Baptista 1, Carla Batista 1
@ - Corresponding author
1 - Universidade Aberta, Delegação do Porto, Rua do Ameal, 752,
4200-055, Porto, Portugal; e Cepese – Centro de Estudos da População,
Economia e Sociedade, Edifício Cepese, Rua do Campo Alegre, 1021/1055,
4169-004, Porto, Portugal. e-mail: rbastos@uab.pt
2 - Cima – Centro de Investigação Marinha e Ambiental, Universidade do Algarve, Faro, Portugal. e-mail: jdias@ualg.pt
RESUMO
O litoral alentejano constitui-se como um dos últimos redutos de costa
selvagem da Europa, dado que as suas características naturais,
nomeadamente, as geológicas e oceanográficas, não incentivaram, no
passado, uma ocupação humana de relevância.
Na sua esmagadora maioria, o trecho costeiro em análise é composto por
litorais expostos, sujeitos à elevada energia das ondas do Atlântico,
ao vento, aos ataques marítimos, para além de, em geral, serem
constituídos por solos muito pobres. Estes factores conjugados
contribuíram para que as populações se afastassem dessas zonas,
preferindo os litorais abrigados, com condições favoráveis à pesca, à
salinicultura e à agricultura, enquadrando-se neste âmbito os Estuários
do Sado e do Mira.
A ocupação dos litorais abrigados deste trecho costeiro remonta aos
tempos pré-romanos, tendo sido paulatinamente reforçada pelo avanço da
Reconquista, pela necessidade de ocupação dos territórios
recém-conquistados. Acresce a preocupação da defesa costeira,
designadamente dos ataques de pirataria e corso. Paralelamente à
pacificação e defesa do território verificou-se um progressivo
crescimento demográfico (até aos séculos XIV-XV), implicando novas
necessidades económicas, nomeadamente na agricultura, com o consequente
fenómeno de desmatamento e aumento da procura de bens de primeira
necessidade, de que são exemplo o pescado e o sal. Como resultado,
verificou-se uma intensificação do comércio, sobretudo o efectuado por
via marítima.
O período do domínio filipino foi igualmente relevante para o litoral
em apreço já que a defesa do país passou a estar centrada na fronteira
marítima mais do que na terrestre, por receio dos ataques holandeses e
ingleses.
Nem a moda de “ir a banhos de mar”, registada um pouco por todas as
zonas costeiras da Europa a partir de meados do século XVIII, nem
tão-pouco o crescimento do turismo português, especialmente na costa
algarvia, a partir dos anos 60 do século passado, se reflectiu num
grande incremento da ocupação da costa litoral alentejana. Esta estava
favorecida, primeiro pela classificação como Zona de Paisagem Protegida
(MPAT, 1988) e, posteriormente, como Parque Natural (MARN, 1995).
Não obstante, no início do século XXI registou-se uma modificação desta
tendência e o Alentejo litoral viu a sua ocupação subordinada aos
interesses económicos, nomeadamente à aprovação de alguns projectos de
ocupação turística, os quais constituem uma ameaça à grande parte do
património natural, conduzindo consequentemente ao desaparecimento do
último reduto de costa selvagem europeia.
Palavras-chave: litoral alentejano, antropização, tipos de costa (abrigada/exposta), gestão costeira.
ABSTRACT
The
littoral of Alentejo is one of the last strongholds of wild coast in
Europe. In the Past, its adverse natural (e.g., geological,
oceanographic) characteristics not encouraged human occupation with
much relevance.
In general, this coastal stretch is widely exposed to the Atlantic high
energy waves, strong winds, corsair and pirate sea attacks, besides
soils are often very poor. These and other factors contributed to human
populations were not attracted by the generality of this coast.
Settlements were preferentially concentrated in sheltered coasts
(estuaries) where favorable conditions for fishing agriculture and salt
production did exist: this means mainly the Sado and Mira Estuaries.
The occupation of sheltered areas dates back to pre-Roman times, having
been gradually reinforced by the advancement of Reconquista
(re-occupation by Christians of territories conquered by Islam some
centuries ago). The need for occupation of the recently conquered
territories was reinforced by the concern over the corsair and pirate
sea attacks. In parallel with the territory pacification and defence
there was a progressive population growth (up to centuries XIV-XV). The
increase in population has brought new economic needs, particularly in
agriculture (with the ensuing deforestation and increasing demand for
essential goods like fish and salt). The increase in demand has led to
an intensification of trade, mainly carried out by sea.
The period of Philippine domain (1580 e 1640) was equally relevant to
the Alentejo’s coast . At that time, the defence of Portugal became
more focused on the marine borders than on land (for fear of Dutch and
English sea attacks).
Neither the fashion of “go to sea bathing” (found in many coastal areas
of Europe from the mid-18th century) nor the Portuguese tourism growth
(especially in the Algarve coast, in 60s of last century), reflected in
a significant occupation increase of Alentejo costal zone.
The classification of this area as “Protected Landscape Area” (1988)
and later on as a “Natural Park” (1995) allowed the continuation of
some human rarefaction in this zone. However, some strong touristic
occupation does exist, which is mainly concentrated in protected coasts
(Sado and Mira estuaries and Bay of Sines, and their expansion areas).
At the beginning of the 21th century the adoption of new legislation
allowing the development of Projects of National Interest (PIN) if
large investments (millions of euros) are guaranteed can lead to a
reverse in a situation resulting from many centuries of history. Some
of these touristic projects have already been approved.
If coastal management agencies do not have enough careful and
precaution actuation, and if short-term economic interests win over
natural heritage values, sustainable development of this whole coastal
area is at risk. This can lead to the disappearance of the last bastion
of the wild coast of southern Europe.
Keywords: Littoral of Alentejo, sheltered coast, anthropization, coast management.
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