notas e conclusões
Versão
em PDF
O Seminário sobre águas subterrâneas (SAS) realizou-se pela primeira
vez fora da região de Lisboa, na cidade de Évora.
Esta edição do Seminário foi coorganizada pela Comissão Especializada
de Águas Subterrâneas (CEAS) da APRH, pelo Núcleo Regional Sul (NRS) da
APRH e pela Universidade de Évora, tendo contado com a presença de
cerca de 60 participantes.
Contou na sessão de abertura com a presença do Senhor Secretário de
Estado do Ambiente, Paulo Lemos, do chefe do Departamento de
Geociências da Universidade de Évora, Luís Lopes, do Presidente do NRS
da APRH, Paulo Chaveiro, e do Presidente da CEAS, Manuel Oliveira.
O Secretário de Estado do Ambiente referiu diversos aspetos de
políticas da água com impacte nas águas subterrâneas, nomeadamente a
realização do planeamento das regiões hidrográficas com verbas
provenientes da taxa de recursos hídricos; a renovação que foi
realizada em 60 % da rede de monitorização de recursos hídricos; o
relatório do estado do ambiente referindo que, até 2027, 100 % das
massas de águas subterrâneas estarão em bom estado; o compromisso para
o crescimento verde que estabelece, num primeiro objetivo, que que até
2020, 72 % das massas de águas estarão em estado bom ou superior, e até
2030, estarão nesta situação 100 % das massas de água, e, num segundo
objetivo, relativamente à eficiência hídrica, para os mesmos horizontes
temporais, as perdas nos sistemas baixarão para 25 % e 20 %,
respetivamente. Deu também nota do POSEUR (Programa Operacional
Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos), que engloba um novo
programa de financiamento comunitário para a água e ambiente, com
avultados investimentos previstos até 2020. Referiu, como notas finais,
a importância do envolvimento das universidades e da sociedade com a
Administração para a gestão dos recursos hídricos e enalteceu a
organização deste Seminário pela APRH.
Durante as duas manhãs do Seminário foram apresentados 23 trabalhos
versando os mais variados temas, destacando-se a divulgação de projetos
de investigação nacionais e internacionais; a apresentação de
metodologias de estudo, incluindo modelação numérica, geofísica e
sistemas de apoio à decisão; a verificação de cenários de exploração de
sistemas aquíferos; a abordagem de questões ambientais e os estudos de
ecossistemas; a realização de ensaios no campo e em laboratório; a
gestão de recarga de aquíferos; e a observação da descarga de águas
subterrâneas em meio marinho.
Na tarde do primeiro dia realizou-se uma visita técnica, facto inédito
nos SAS, ao aquífero de Évora, para observar diversos aspetos do seu
funcionamento hidráulico e da sua utilização para aquecimento de
instalações e para fornecimento de água potável para abastecimento.
O Seminário teve na tarde do segundo dia uma mesa redonda subordinada
ao tema: Governança da água: da teoria à prática – o caso das águas
subterrâneas. Na notícia seguinte destacam-se alguns aspetos referidos
pelos intervenientes.
O Seminário terminou com uma Comunicação convidada: “Da captação de
água subterrânea à gestão do solo e do subsolo” proferida pelo Prof.
José Martins Carvalho.
Um agradecimento a todos os que contribuíram para este evento,
participantes incluídos, e aos patrocinadores, apoiantes e media
partner,
sem os quais não teria sido possível realizar este Seminário.
Como nota final, o 10.º Seminário Sobre Águas Subterrâneas cumpriu os
objetivos que estiveram na sua génese: o debate de temas atuais
relacionados com o conhecimento e investigação no domínio dos recursos
hídricos subterrâneos em Portugal, no que concerne à sua
caracterização, proteção e gestão, visando o uso sustentável do recurso.
Livro de Resumos (
PDF)
Programa e as apresentações
técnicas e da Mesa Redonda.
Nota sobre a Mesa Redonda do 10º Seminário sobre Águas
Subterrâneas: Governança da água: da teoria à prática – o caso das
águas subterrâneas
A Mesa Redonda contou com a participação do Diretor Regional da
Administração da Região Hidrográfica do Alentejo, André Matoso, da
Investigadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Teresa
Leitão, da Coordenadora do Grupo de Trabalho da Água da Quercus -
Associação Nacional de Conservação da Natureza, Carla Graça, e do
Responsável pelos Serviços de Água e Saneamento da C.M. de Reguengos de
Monsaraz, Paulo Chaveiro.
Seguidamente apresenta-se um resumo das suas intervenções,
destacando-se que, para algumas delas, se podem consultar os ficheiros
das apresentações
aqui.
André Matoso, sob o mote "Principais desafios e
dificuldades na implementação dos Planos de Recursos Hídricos", fez uma
análise histórica das duas fases anteriores de planeamento, referindo
os planos de bacia hidrográfica e o Plano Nacional da Água, como
primeiro ciclo de planeamento e lembrando que as regiões hidrográficas
só surgiram depois, referindo o ERHSA (Estudo dos Recursos Hídricos
Subterrâneos do Alentejo) como um bom exemplo de governança através do
envolvimento de várias instituições, e dando como outro exemplo de
governança da Água a atuação na seca de 2005, com o envolvimento de
diversas entidades oficiais e empresas de capitais públicos.
Referiu também a primeira geração dos Planos de Gestão de Região
Hidrográfica, elencando aspetos positivos e negativos destes Planos, a
saber, como aspetos positivos, o grande esforço na preparação dos
planos, a integração gradual da perspetiva ecológica na gestão da água,
o reforço da cooperação internacional, o aumento da participação do
público e do envolvimento das partes interessadas, e a melhoria do
conhecimento de base. Como aspetos negativos, realçou que a filosofia
da DQA nem sempre tinha sido absorvida, a falta de informação que
conduziu ao recurso da análise pericial para a classificação das massas
de águas, a falta de clareza nas metodologias de classificação das
pressões significativas, a dificuldade no conhecimento da relação
causa-efeito entre estado e pressões, e a utilização aparentemente
excessiva de prorrogações e derrogações devido ao atraso verificado na
elaboração dos planos.
Para a Governança da Água referiu a possibilidade de contratualização
com autarquias e associações de utilizadores, a necessidade de uma
adequada articulação da política setorial da água com os Instrumentos
de Gestão Territorial, e de executar os instrumentos económicos de
mercado (Títulos de Utilização dos Recursos Hídricos e Regime
Económico-financeiro das Utilizações dos Recursos Hídricos). Terminou
referindo os paradigmas da gestão dos recursos hídricos para os
próximos anos, num contexto de alterações climáticas, reforçando que
representam desafios para a sociedade, e que aspetos como a
sensibilização e a alteração de mentalidades são essenciais neste
processo.
Teresa Leitão, sob o mote "Efetivação dos planos na
ótica de um membro da comunidade científica", alicerçou os seus
comentários na atual caracterização das massas de águas subterrâneas
(Relatório do artigo 5º da DQA) do plano de gestão de região
hidrográfica (PGRH) do Tejo e ribeiras do Oeste. Tal deveu-se a ter
estado envolvida na equipa do LNEC que realizou conjuntamente o plano
anterior, sendo assim mais fácil fazer uma análise comparativa da sua
evolução. Começou por realçar o trabalho muito meritório de uma equipa
reduzida de técnicos da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) que está a
realizar os atuais PGRH. Referiu que a APA não solicitou, aos
consultores que participaram na realização dos anteriores PGRH do Tejo
e das ribeiras do Oeste, as metodologias que foram então utilizadas.
Notou que não estão explicados os critérios subjacentes à definição de
novas massas de águas subterrâneas, não são apresentados os critérios
utilizados para a sua classificação, nem se explica a que se deveu a
melhoria do estado químico de algumas dessas massas de águas.
Assim, as principais notas foram que, apesar de reconhecer como
positivo o aspeto de a informação transmitida ter como principal
preocupação ser clara e sintética, não existindo informação de base, é
impossível fazer qualquer comentário sobre os valores apresentados.
Verificou-se uma mudança de critérios, tendo sido estabelecidos
limiares para 32 substâncias, das quais 11 decorrem das obrigações da
DQA, resultando as restantes 21 de parâmetros da avaliação de risco do
primeiro ciclo de planeamento (embora não se refira terem sido
aplicados). Levantou algumas questões como: que dados terão sido
utilizados relativamente às redes de monitorização de vigilância e
operacional? Terão sido refeitas as redes de acordo com a
representatividade definida nos PGRH anteriores? Serão os mesmos pontos
e a monitorização está a ser conduzida de forma completa? Que medidas
foram postas em marcha e são responsáveis pela melhoria do estado
registado?
Apontou alguns erros que podem ser consultados
aqui.
Referiu ainda parecer que o principal objetivo da gestão é fazer os
planos em vez de os cumprir (i.e. aplicar as medidas), que as ações de
investigação estão aquém das necessidades (dever-se-iam fazer modelos
integrados que permitissem avaliar o impacte das medidas atendendo à
dinâmica das águas subterrâneas, a gestão deveria ser integrada com o
planeamento do uso do solo, etc.), e que as questões significativas
(QSiGA) são muito genéricas, apenas relativas a dados gerais sobre
poluição.
Carla Graça abordou o tema “Planos e Sociedade”
tendo posteriormente ao Seminário enviado a seguinte nota sintetizando
a sua intervenção:
«A água é um elemento essencial à vida e
que, pela sua natureza específica, é parte integrante de todos os
processos e actividades humanas. Por este motivo, a gestão da água e
dos recursos hídricos é um processo muito complexo, devendo sempre que
possível procurar auscultar todos os agentes, bem como as populações
envolvidas.
Qualquer processo de planeamento deve procurar o envolvimento das
populações. Um processo de planeamento dos recursos hídricos, isto é,
da água para os seus diversos usos, ainda o deve fazer mais. A água é
um recurso essencial para todas as actividades humanas, pelo que a
intervenção activa dos vários utilizadores da água dever ser um
instrumento essencial para o processo de planeamento e para o seu
sucesso futuro.
Actualmente, o processo de planeamento e gestão dos recursos hídricos
na Europa e em Portugal (de acordo com a Directiva Quadro da Água –
Directiva 60/2000/CE – transposta para o direito interno pela Lei da
Água – Lei nº 58/2005, de 29 de Dezembro) apenas prevê dois períodos de
consulta pública por cada ciclo de planeamento (6 anos): um primeiro
período de 6 meses aquando da definição das Questões Significativas da
Água (QSIGA); e um segundo período, também de 6 meses, aquando da
versão preliminar dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica (PGRH).
Após a publicação dos PGRH, que vigorarão durante os 6 anos seguintes,
nada mais se encontra previsto em termos de participação pública.
Sendo certo que algumas entidades, representantes da sociedade civil e
dos diversos utilizadores da água, têm assento no Conselho Nacional da
Água (que reúne cerca de 4 vezes por ano), e que foram ainda
recentemente recriados os Conselhos de Região Hidrográfica (CRH), pela
Portaria nº37/2015, de 17 de Fevereiro, a maioria da população ainda se
encontra afastada do planeamento dos recursos hídricos e sente que tem
pouca capacidade de influência no mesmo. A forma como a Administração
se encontra organizada, como é feito o planeamento e como a informação
existente é disponibilizada ao público muito contribuem para o
afastamento das populações dos assuntos dos recursos hídricos.
No entanto, as populações preocupam-se efectivamente com o estado da
água e com as pressões sobre a mesma, como é demonstrado pelas inúmeras
denúncias que chegam à Quercus sobre as mais diversas situações
relacionadas com recursos hídricos, desde descargas e poluição, a
utilização abusiva e pouco eficiente do recurso água.
Deverá ser dada aos agentes utilizadores da água e às populações não
apenas a capacidade de intervirem nas consultas públicas, mas também a
capacidade de monitorizarem o próprio processo de planeamento e a
eficácia da sua implementação.
É absolutamente necessária a disponibilização da informação às
populações sob formas que elas o entendam, nomeadamente através de
fichas, com informação georreferenciada sobre a monitorização
efectuada, as pressões existentes e o estado qualitativo e quantitativo
das massas de água. As populações devem poder fornecer informação que
possa ser incorporada e utilizada pela Administração de forma contínua.
Apenas dessa forma se pode garantir o envolvimento eficaz de toda a
sociedade no processo de planeamento, e garantir a sua continuidade ao
longo de todo o ciclo de vigência dos PGRH.
A gestão dos recursos hídricos não pode apenas ser feita nos gabinetes,
tem que ser feita para as populações e com as populações.»
Paulo Chaveiro, dando a perspetiva da Administração
Local sobre a governança da água referiu que o novo Regime Jurídico dos
Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT) traz novas implicações para
as entidades gestoras em baixa, neste caso nos municípios e até nos
planos existentes dentro dos perímetros de gestão territorial de cada
município.
Abordando o Plano de Ordenamento das Albufeiras do Alqueva e Pedrógão
(POAAP), relevou que os “privados” deixam de estar vinculados a
quaisquer planos (neste caso o POAAP), pois os Planos Especiais passam,
com o novo RJIGT, a ser Programas Especiais que requerem que, para que
as suas normas possam ser aplicadas e possam vincular os particulares,
elas estejam explanadas no Plano Diretor Municipal (PDM) de cada
concelho.
Referiu que o município de Reguengos de Monsaraz considera erros que
deveriam ser alterados ao atual POAAP através do Programa Especial.
Desde a entrada do Plano Regional de Ordenamento do Território do
Alentejo (PROTA), que se deveria ter iniciado até julho de 2011 a
revisão do POAAP. Contudo só agora os municípios de Alandroal, Elvas,
Mourão, Moura, Portel, Serpa e Vidigueira se encontram, juntamente com
a APA e EDIA, a tentar iniciar o processo.
Afirmou ainda que a maioria das autarquias não tem capacidade em termos
de recursos humanos ou mesmo técnicos para suportar as novas
responsabilidades do RJIGT, podendo e devendo sempre intervir na
execução de planos ambientais mais específicos, mas não elaborá-los.
Reforçou e destacou algumas responsabilidades que os municípios
deveriam ter em relação aos recursos hídricos: através do PDM proteger
todos os pontos de recarga de aquíferos cujas captações próprias sejam
ativas no abastecimento público ou estejam assinaladas como reserva
estratégica para o mesmo fim; produzir estudos e propostas de
Perímetros de Proteção (PP) das suas captações (subterrâneas);
fiscalizar o uso do solo nas zonas delimitadas pelos PP e suas
limitações impostas; informar a APA de todos os maus usos do recurso
água, superficial ou subterrâneo (destruição de linhas de água,
descargas ilegais, queimadas nas linhas de água e o não respeito das
leis em vigor).
Após a apresentação de dados sobre o abastecimento de água em baixa do
Município de Reguengos de Monsaraz, terminou manifestando a preocupação
de os processos relativos à delimitação dos PP das captações de águas
subterrâneas se atrasarem por os recursos humanos internos da APA que
analisam estes processos estarem a desenvolver o atual Plano de Gestão
da Região Hidrográfica do Guadiana.
[Nota elaborada pela Comissão Organizadora com a colaboração dos
intervenientes na Mesa Redonda]