Título:
Lixo marinho em área de reprodução de tartarugas marinhas no Estado da Paraíba (Nordeste do Brasil)
Resumo:
A praia de Intermares, (Paraíba – Brasil), apesar da intensa urbanização, é importante área de reprodução de tartarugas marinhas no nordeste brasileiro. A contaminação deste ambiente por lixo pode implicar na perda de hábitat reprodutivo para as tartarugas. Conhecer o perfil do lixo neste bolsão de reprodução é fundamental para o aprimoramento de planos de gestão e conservação. Para tal foi feito um levantamento do perfil do lixo encontrado na praia durante a estação reprodutiva de 2006. Para cada um dos três pontos de coleta (extremos e centro da praia) foram construídas faixas de 50 m2 a partir da linha de maré, onde dois indivíduos com esforço de 1 hora/dia realizaram 26 coletas durante 2 meses da estação seca. Para observar a deposição de lixo a cada 24 horas, as coletas foram realizadas em 3 dias consecutivos, sendo o primeiro, posterior ao dia da limpeza pública. Do total de 78 amostras obteve-se 6.556 itens que foram classificados em plástico (80%), restos de alimentos (19,4%), metal (0.5%) e vidro (0,4%). Não houve diferença significativa entre os tipos de itens encontrados por ponto, porém, o ponto 3 apresentou a maior concentração de lixo (47% do total). Pequenos fragmentos de plástico (com cerca de 1,5 cm) denominados plástico mole e plástico duro foram abundantes na linha de deixa, sugerindo que seu aporte seja dado pela ação das marés e se trate de lixo proveniente do continente por meio dos rios e drenagem pluvial. Restos de alimentos e embalagens de biscoitos e lanches (26% do total de plástico) são provavelmente depositados pelos usuários da praia e são mais encontrados nos pontos acima da linha de maré. O item monofilamento de nylon foi mais abundante no ponto 1 com 49% das unidades coletadas e a maioria se encontrava enredado em algas e junto com outros itens relacionados á pesca correspondeu a 12,8% do total de itens coletados. Tartarugas marinhas, por utilizarem também o ambiente terrestre, são duplamente afetadas pela presença de lixo. Nas areias das praias, o lixo pode afetar o sucesso reprodutivo destes animais, pois, pode impedir o acesso de fêmeas aos locais adequados de desovas, bem como impedir os neonatos de emergirem dos ninhos e alcançarem o mar. Restos de alimentos podem atrair animais nocivos como ratos que comem os ovos e os neonatos, além de serem vetores de doenças para a fauna nativa e seres humanos. Em seis anos de atividades a Associação Guajiru monitorou 670 ninhos da tartaruga-de-pente, em 180 deles (27%) foi encontrado plástico e matéria orgânica. Pelo perfil dos itens encontrados, pode-se afirmar que os neonatos de tartarugas são os mais afetados, pois fragmentos de plásticos e monofilamentos têm a capacidade de obstruir a abertura da câmara de ovos e/ou impedir a chegada ao mar. Ações de mitigação e extirpação do lixo no ambiente marinho e costeiro deveriam ser adotadas de forma integrada entre os municípios que pertençam a uma mesma bacia hidrográfica.
Autores:
Rita Mascarenhas, P. Batista Clenia, Isa F. Moura, Allinne R. Caldas, José M. da Costa Neto, Mônica Q. Vasconcelos, Sulia S. Rosa, Taíssa V. S. de Barros