Título:
A precipitação na região de Coimbra. Estudo baseado na digitalização de série udográfica com cerca de 70 anos
Resumo:
A caracterização da precipitação, em particular no que respeita à sua distribuição espacial e temporal e às situações de ocorrência ou de carência extremas, é essencial para diversos estudos de engenharia, quer para a gestão dos recursos hídricos quer para o projecto de infraestruturas. O estudo de precipitações intensas para aplicação em pequenas bacias de drenagem, nomeadamente em bacias urbanas, com tempos de concentração reduzidos, exige o conhecimento pormenorizado da precipitação ao longo de curtos intervalos de tempo, desejavelmente da ordem de minutos. Por outro lado, no âmbito de alguns estudos de drenagem urbana, nomeadamente de controlo de descargas para os meios receptores e de controlo de afluências indevidas aos colectores, ganha interesse a modelação e a análise estatística para a totalidade dos acontecimentos chuvosos de uma série, em vez do estudo para eventos extremos seleccionados. Assim, à medida que se vão dispondo de séries de precipitação digitalizadas, aumentam as potencialidades da sua utilização, exigindo, contudo, análises de qualidade e caracterizações pormenorizadas da totalidade da série e da sequência dos eventos. Neste artigo apresentam-se resultados da digitalização e tratamento da série udográfica do Instituto Geofísico da Universidade de Coimbra (IGUC), para o período de setenta anos de 1935-2005. É descrita a metodologia utilizada para processamento, tratamento, estudo da qualidade e caracterização da série. Os estudos permitem concluir que a série digitalizada não revela erros significativos para 66 anos hidrológicos e que apresenta elevada homogeneidade. São apresentadas estatísticas dos valores anuais e mensais da precipitação. Apesar do tamanho da amostra, o histograma dos valores da precipitação anual apresenta uma distribuição pouco próxima da normal. O estudo da autocorrelação das intensidades de precipitação, tendo em vista o estabelecimento de critérios para separação de eventos, demonstrou não haver uma diminuição significativa da autocorrelação com o aumento do desfasamento para além das 6 horas, tal como já tinha sido observado para uma série de Lisboa. A divisão por eventos com base nos critérios propostos (ImáxTS = 0,25 mm; ImáxTS = 6 horas) conduziu a uma média de 120 eventos por ano, de que se apresentam algumas distribuições de parâmetros caracterizadores. São apresentadas curvas IDF para chuvadas frequentes (úteis, por exemplo, para classificar a amplitude de eventos monitorizados em campanhas de curta duração) e, por fim, para períodos de retorno elevados, tendo-se verificado a aplicabilidade da lei de Gumbel à série de máximos anuais por diferentes métodos.
Autores:
Rita Fernandes de Carvalho, Luís mesquita David