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WATER TALKS
Escassez de água a Norte do Tejo. Como enfrentar?
Documento elaborado por Dália Loureiro, Vitor Pereira, João Álvaro e Jorge Gonçalves
Resumo
O evento Watertalk sobre “Escassez de água a norte do Tejo. Como enfrentar”, online, organizado pela Comissão Especializada de Serviços de Águas (CESA) da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos abordou a escassez de água na região norte, discutindo os impactos e soluções sustentáveis para enfrentar este problema, com base em dois casos reais de entidades gestoras (EG) de serviços de abastecimento de água desta região.
A escassez de água, agravada pela crescente frequência de secas severas, constitui um grande desafio para as EG de serviços de abastecimento de água. Durante o ano hidrológico 2021/22, precipitações abaixo da média afetaram Portugal, incluindo a região norte, com destaque para a bacia do rio Lima, que em setembro de 2022 atingiu apenas 20% de sua capacidade.
Na região norte, o principal uso de água é para rega (77%), seguindo pelo uso urbano (15 %) e industrial (7 %). No serviços de abastecimento de água, a avaliação anual da qualidade de serviço tem sido uns dos instrumentos essenciais para o diagnóstico de perdas de águas nas entidades gestoras e apoiar na decisão sobre medidas prioritárias para uma maior eficiência nestes serviços. Apesar de existir ainda um potencial de melhoria em muitas entidades gestoras da região norte, em particular entidades “em baixa”, a avaliação anual da qualidade dos serviços de abastecimento de água pela ERSAR tem sido essencial. Esta tem permitido um diagnóstico sistemático das perdas de água e apoio na priorização de medidas, que já se refletem em avanços como a redução de perdas e maior resiliência hídrica em várias EG da região.
O primeiro orador convidado foi Eng. Vitor Pereira, responsável pela gestão do sistema de abastecimento de água “em alta” à Região do Vale do Sousa da Águas do Douro e Paiva. Este orador ilustrou o problema de escassez de água no subsistema do Vale do Sousa da Águas do Douro e Paiva em 2022. Descreveu o impacto da diminuição da precipitação e da ocorrência de ondas de calor na operação do sistema, nomeadamente, i) na degradação da qualidade da água bruta nos rios e como esta afeta a capacidade de tratamento e ii) como estes eventos induzem aumentos de consumos significativos. Alertou também para a importância de garantir uma adequada gestão dos sistemas para evitar a possibilidade de abastecimento de intermitente em situações futuras, pelos impactos técnicos e sociais que pode causar.
No debate, enumerou medidas tomadas para dar resposta durante o ano de 2022, nomeadamente a necessidade de introduzir alterações ao processo de tratamento e rotinas operacionais para assegurar a manutenção da qualidade da água, face a problemas de eutrofização. Como medidas a médio-prazo destacou o reforço das origens de água das instalações geridas pelas entidades gestoras em alta, para garantir a redundância, prosseguir com a implementação de medidas para assegurar a eficiência hídrica dada a criticidade do controlo de perdas de água ou o reforço de reservas de água nos sistemas municipais.
O segundo orador convidado foi o Eng. João Álvaro, Coordenador de Operações da AdIN – Águas do Interior Norte destacou a importância da gestão de perdas água para fazer face a situações de escassez hídrica. Salientou também a importância da agregação das entidades gestoras para facilitar o acesso a financiamentos necessários à implementação de medidas prioritárias para redução de perdas de água (criação de zonas de medição e controlo, zonas de gestão de pressão). Referiu também que, embora a gestão de perdas possa ser financeiramente sustentável a longo prazo, os financiamentos são cruciais para alavancar essas iniciativas nas EG. No debate, enumerou medidas tomadas para dar resposta durante o ano de 2022, nomeadamente o abastecimento por autotanques em regiões mais críticas. Enfatizou também a necessidade de uma gestão eficiente da água em todas as etapas, desde a captação até o consumidor final. Como entidade “em baixa”, a AdIN perceciona diretamente o feedback dos utilizadores em situação de escassez.
Ambos os oradores destacaram também a importância de uma articulação eficaz entre entidades “em alta” e em “baixa” para fazer face a eventos como os que aconteceram em 2022 na região norte.
Referências
APA/NEMUS/BLEUFOCUS/HIDROMOD (2021). Avaliação das disponibilidades hídricas por massa de água e aplicação do índice de escassez WEI+, visando complementar a avaliação dos estado das massas de água, Agência Portuguesa do Ambiente.
ERSAR (2024). Relatório anual dos serviços de águas e resíduos em Portugal (2023). Volume 1 – Caracterização do setor de águas e resíduos, Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos. ISBN 978-989-8360-46-5.
Oliveira, R. P. (2024). Água em Portugal, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Depósito Legal n.º 530259/24.
SNIRH (2024). Boletim de armazenamento nas albufeiras de Portugal Continental. Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, Agência Portuguesa do Ambiente.