Volume 8, Issue 2 - December 2008
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Revista de Gestão Costeira Integrada
Volume 8, Número 2, Dezembro 2008, Páginas 11-23
DOI: 10.5894/rgci130
*
Submissão – 29 Maio 2008; Avaliação – 9 Agosto 2008; Recepção da versão
revista - 11 Agosto 2008; Aceitação - 13 Agosto 2008; Disponibilização
on-line - 2 Setembro 2008
Sustentabilidades e Insustentabilidades do Turismo Litorâneo *
Sustainability and Unsustainability of Coastal Tourism
Luzia Neide Menezes T. Coriolano 1, C. S. Leitão 2, F. P. Vasconcelos 3
1 - Autor correspondente - luzianeidecoriolano@gmail.com - Universidade Estadual do Ceará, Brasil.
2 - Universidade Estadual do Ceará, Brasil.
3 - Universidade Estadual do Ceará, Brasil.
RESUMO
O turismo é um dos fatores de aceleração do desenvolvimento, e de
intensificação das relações sociais, típicas do capitalismo. Trata-se
de atividade que necessita do uso de ambientes naturais e culturais,
produzidos pelo trabalho, para transformá-lo em espaço de lazer. O
turismo faz parte da dinâmica da mundialização do capital, que cria
territorialidades, envolvendo, mercado, Estado e Sociedade Civil. É um
serviço de recuperação do trabalho humano. No Ceará-Brasil, em meio à
exportação do calçado, indústria têxtil, castanha de caju, couros,
peles, camarão, lagosta, frutas tropicais, confecções, ceras vegetais e
ferro, o turismo ocupa o quarto lugar como produto de exportação,
emergindo como setor cada vez mais estratégico para a economia,
fenômeno observado em todo o Nordeste brasileiro.
O turismo é um setor afeito a mitologias, ora é considerado panacéia
capaz de resolver problemas socioeconômicos dos países periféricos, ora
é interpretado como indústria capaz de destituir comunidades de suas
marcas identitárias e de sentimentos de pertença. Há, pois, na
atividade turística, elementos contraditórios. De um lado, permite a
concentração de riquezas e a desterritorialização cultural, de outro,
contribui para a criação de oportunidades em regiões pobres e
excluídas. Sabe-se que o turismo constitui atividade econômica que
interfere nas culturas e no modo de produzir dos núcleos receptores,
provocando mudanças e gerando grandes impactos que podem ser discutidos
como questão de (in)sustentabilidade social, cultural e ambiental
(indústria, agricultura ou pecuária). As atividades humanas impactam
ambientes em diferentes graus. As mais invasivas geram maiores danos
ambientais e culturais, além de centralizar maior volume de riqueza,
causando danosos impactos sociais por produzir uma sociedade segregada,
que se alimenta da exclusão, tornando-a insustentável.
Esta (in)sustentabilidade é produzida, num primeiro recorte, de
natureza econômica, pela contradição capitalista. Nos países
periféricos, gera “ilhas de prosperidade” que entram em conflito com
espaços marginais, fazendo emergir contradições sócio-espaciais, com
acentuada exploração do mercado de trabalho, grande porcentagem de
trabalhadores temporários e ocasionais; intensa presença de mulheres
com contratos de meio período, especialmente em hotelaria e
restaurantes; escasso número de mulheres em cargos de maior
responsabilidade; presença de trabalhadores estrangeiros, nos cargos
mais elevados, nos países em desenvolvimento, em detrimento dos
profissionais locais; pouca qualificação dos prestadores de serviços na
hotelaria e em alimentos e bebidas; menores níveis de salários em
relação a outros setores; maior exploração do trabalhador na jornada de
trabalho; poucos trabalhadores sindicalizados e com algumas atividades
com curto ciclo de vida. Em segundo recorte, de natureza cultural, pela
ausência de interlocução entre as políticas públicas que produzem
efeitos danosos nas populações nativas, contribuindo para a
(in)sustentabilidade de grandes projetos turísticos, os quais muitas
vezes nascem fadados ao fracasso.
Este artigo apresenta reflexões sobre contradições e desafios relativos
à sustentabilidade do turismo, em face dos significados tradicionais de
desenvolvimento adotados pelas políticas governamentais e sua
desconexão com outras políticas, que podem contribuir para a construção
do turismo solidário, voltado para o fomento da diversidade cultural e
qualidade de vida das populações litorâneas.
Palavras-Chave: territorialidades, comunidades, sustentabilidades.
ABSTRACT
The tourism is one factor of acceleration of the contemporary
development, also of intensification of the social relations,
characteristics of the capitalist production mode. It is an activity
that needs the use and appropriation of natural and cultural
environments, produced by work, to transform it into space of leisure
and consumption. The tourism is part of the current dynamic of the
globalization of the capital, which creates territorialities, like an
answer to the crises of global accumulation, involving not only the
market, but also the State and the Civil Society. Moreover, it is a
service of support to the recuperation of human work, progressive
growth of the relations of industrial, commercial and financial works
of the several international markets. In addition, the tourism, as an
exportation product, is considered on of the main merchandise of the
exterior commerce. In Ceará, besides the exportations of shoes, textile
industry, cashew nut, leathers, shrimps, lobsters, tropical fruits,
clothes, vegetal waxes and iron; the tourism occupies the fourth
placement on the rank of the most exported products, emerging as a
strategic sector for the economy, this phenomenon can be observed in
all the Northeast of Brazil.
However, the tourism is a sector accustomed to mythologies. Some times
is considered panacea capable to solve the socioeconomic problems of
peripheral countries, on the other hand it is seen as a wild industry
capable to destroy communities, its identity and ownership feelings.
There are contradictory elements in this activity. The tourism allows
the concentration os wealth and cultural desterritorialization, on the
other hand, contributes, creating opportunities on poor and excluded
regions. It is known that the tourism constitutes an economic activity
that interferes on cultures and production mode of the receiver cores,
so-called local communities, provoking changes and generating large
impacts that might be discussed as a question of social, cultural and
environmental (un) sustainability (industry, agriculture or livestock).
It is also known that human activities impact the environment in
different degrees. The strongest, like the mega-hotels, generate the
biggest environmental and cultural damages, and concentrate an elevated
volume of wealth, causing as consequence social impacts due to produce
a segregated society, feed of exclusion and becoming unsustainable.
This (un) sustainability is produced, at first in a economic
perspective, of capitalist contradiction. In peripheral countries,
generates “prosperity islands” that conflicts against the marginal
spaces, producing sociospatial contradictions, clearly intensified on
the exploration of the work market, denoted by the elevated percentage
of half-period workers, temporary workers; intense presence of women
with half-period contracts, especially at hotels and restaurants,
scarce number of workwomen occupying high positions, presence of
foreigner workers occupying high responsibility positions in third
world countries instead of the local professionals; low qualification
of the service providers (drink and food), lower levels of salaries
related to other sectors; higher exploration of workers on their daily
journeys; few unionized workers and a few activities with short
duration. In a second perspective, of cultural nature, by the absence
of dialogue between the public policies of culture an tourism, has been
producing harmful effects on native populations, contributing
excessively to the (un) sustainability of huge tourist projects, which
are born predestined to failure. However, is important to define public
policies able to approach and integrate Development and Culture. We
could not have produced a new matrix of development capable of include
our cultural expressions, values and behaviors, present in our habits,
in the communication webs that we establish and in the several
expressions of solidarity that we build? Why the tourist industry and
workmanship cannot dialogue with cultural industry and workmanship, in
order to generate a development proposal for the peripheral countries?
If, in the new century, the Culture starts to be considered an
important strategy against poverty, as well as a determining factor of
social cohesion, why do not we compose an agenda with the Tourism, with
a model focused on a development less submissive and more audacious?
Finally, what development model do we desire to build for the Northeast
of Brazil, capable of guarantee sustainability and living quality for
Brazilians? This article ponders about the meanings, contradictions and
challenges related to the sustainability of tourism, due to traditional
meanings of development adopted by government policies and its
disconnection with cultural policies. The study seeks also to create
connections and meanings between tourism and culture, connections that
might contribute, with values and directions, for the construction of
solidarity tourism, back to the nourishment of cultural diversity and
living quality of populations.
Keywords: Territorialities, communities, sustainabilities
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