Volume 11, Issue 2 - June 2011
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Revista de Gestão Costeira Integrada
Volume 11, Número 2, Junho 2011, Páginas 187-196
DOI: 10.5894/rgci230
*
Submissão: 31 Agosto 2010; Avaliação: 6 Outubro 2010; Recepção da
versão revista: 15 Março 2011; Aceitação: 31 Março 2011;
Disponibilização on-line: 12 Abril 2011
Dinâmicas territoriais e a organização dos pescadores: A experiência da rede solidária da pesca no Brasil *
Territorial dynamics and the organization of fishermen: The experience of the fisheries solidarity network in Brazil
Vera de Fátima Maciel Lopes @, 1, Ubirajara Aluízio de O. Mattos 1, Sidney Lianza 2, Elmo Rodrigues da Silva 1, Paula Raquel dos Santos 1
@ - Autor correspondente / corresponding author: verafml@gmail.com
1 - UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro / PPG-MA
2 - UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro / SOLTEC
RESUMO
Este artigo apresenta uma análise sobre território e identidade
socioterritorial na pesca artesanal. Considerando os processos
hegemônicos de produção e as dificuldades dos pescadores em manter a
sua cultura, ressalta-se a importância em contribuir com o
fortalecimento das organizações dos pescadores, evidenciando as
experiências desenvolvidas no âmbito da Rede Solidária da Pesca, onde
se articulam projetos e ações políticas que visam a fortalecer as
comunidades pesqueiras.
No Brasil, a pesca artesanal é uma atividade produtiva que pode ser
encontrada em todas as regiões, tanto no interior como no litoral e
representa, segundo dados do Ministério da Pesca e Aquicultura, 60% da
produção de pescado de todo o país. Guardadas as particularidades
regionais, a pesca artesanal sobreviveu a diversos ciclos de
crescimento econômico. Porém, relatos de pescadores evidenciam que, nos
últimos anos, a dificuldade de manter um padrão de vida digno na pesca
vem aumentando consideravelmente. A atividade interage com as
modalidades de uso dos espaços litorâneos e dos recursos hídricos, em
geral, marcadas pela expansão da atividade turística e industrial e
pela discussão de privatização e remodelamento dos organismos de gestão
das águas e de controle e gestão na cadeia produtiva da pesca. Vale
ressaltar que as estratégias políticas historicamente adotadas no
Brasil pautaram-se por um modelo “desenvolvimentista” focado no
crescimento econômico acelerado, cujos maiores beneficiados são os
grandes grupos econômicos. Neste cenário, o meio ambiente é tido como
mero recurso a ser explorado, e os modos de vida tradicionais não são
valorizados.
Nos últimos anos, a necessidade de superação das crises econômicas
acirrou, ainda mais, a concorrência e a demanda de exploração e
controle dos recursos naturais pelos oligopólios dos vários setores
econômicos: petróleo e gás, mineração, hidroelétricas, agronegócios,
pesca industrial, entre outros. O crescimento das atividades nesses
setores tem gerado impactos socioambientais que comprometem as diversas
formas de vida nos territórios da pesca artesanal. Por sua vez, as
ações das políticas locais em apoio à pesca em geral atendem a nichos
de mercados monopolizados que acabam por beneficiar os chamados
“atravessadores” ou as grandes indústrias pesqueiras. Diante deste
quadro, o pescador tradicional consegue manter-se nos limites de
subsistência incorporando, cada vez mais, as fileiras das populações
empobrecidas e sem identidade.
O território aqui é concebido como espaço social produzido, seja no que
se refere às delimitações físicas, seja no que diz respeito à
construção das relações sociais de poder e de suas representações
simbólicas. Destacam-se as especificidades e particularidades no modo
de vida dos pescadores artesanais que interagem nos processos de
construção da identidade socioterritorial. A menção às dinâmicas
territoriais no título deste artigo refere-se à polissemia no emprego
do conceito de território, às mudanças na identidade socioterritorial
dos pescadores artesanais e às articulações em redes que implicam
flexibilidade, respeito às culturas locais, decisões participativas,
entre outros.
Palavras-chave:Território, Pesca, Identidade Territorial, Rede
ABSTRACT
This article presents an analysis of the effects of social territorial
identity on artisanal fishing. Considering of the hegemonic processes
of fishing production and the challenges they present to those who work
as artisanal fishermen to maintain their culture, illustrates the
importance of developing fishermen’s organizations. highlighting the
experiences developed under the Fisherman association (Rede Solidária
da Pesca), where articulated projects and political actions are aimed
at strengthening the fishing communities.
In Brazil, artisanal fishing is a productive activity which can be
found in all regions, both inside and on the coast and is according to
the Ministry of Fisheries and Aquaculture this activity represents
around of 60% of fish production from all over the country. Saved
regional peculiarities, the fishing has survived several cycles of
economic growth; however, reports indicate that fishermen in recent
years, the difficulty of maintaining a decent standard of living in
fishing has increased considerably. Activity interacts with the
modalities of use of coastal areas and water resources in general,
marked by the expansion of tourism and industry, and the discussion of
privatization and remodeling of the management agencies and water
control and supply chain management in fisheries.
It is worth noting that historically the political strategies adopted
in Brazil, guided by a model “development” focused on the accelerated
economic growth whose major beneficiaries are large corporations. In
this scenario, the environment is regarded as a mere resource to be
exploited, and traditional ways of life are not valued. In recent
years, the need to overcome the economic crisis intensified, even more
so, competition and demand for exploration and control of natural
resources by oligopolies of the various economic sectors: oil and gas,
mining, hydroelectric, agribusiness, fishing industry, among others.
The growth of activities in these sectors has generated social and
environmental impacts that compromise the various forms of life in the
territories of fishing. In turn, the actions of local policies in
support of fisheries in general, cater to niche markets monopolized
that ultimately benefit the so-called “middlemen” or the large
fisheries industries. Given this scenario, the traditional fisherman
manages to remain within the limits of subsistence incorporating
increasingly, the ranks of impoverished people without identity. The
land here is conceived as a social space produced, whether in regard to
physical boundaries, either in relation to the construction of social
power relations and their symbolic representations. Highlight the
specificities and particularities in the livelihood of fishermen who
interact in the processes of construction of a identity from the social
reality and the territory characteristics. A mention of territorial
dynamics in the title of this article refers to the use of polysemy in
the concept of territory, to changes in socio-territorial identity
artisanal fishermen and the joints in networks that require
flexibility, respect local cultures, participatory decision-making,
among others.
Keywords: territory, Fishing, Identity and social territorial, Network
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