Volume 12, Issue 1 - March 2012
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Revista de Gestão Costeira Integrada
Volume 12, Número 1, Março 2012, Páginas 17-30
DOI: 10.5894/rgci288
Submissão:
18 Maio 2011; Avaliação: 27 Julho 2011; Recepção da versão revista: 18
Outubro 2011; Aceitação: 25 Novembro 2011; Disponibilização on-line: 22
Fevereiro 2012
Análise Urbana de Territórios Construídos
Os Aterros na Baixa e na Frente Ribeirinha de Lisboa, Portugal
Reclaimed Land: an Urban Analysis
The landfills in Lisbon´s downtown and riverfront, Portugal
Vitor C. M. Durão1
1 - DINÂMIA-CET ( Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território) e CIAAM
(Centro de Investigação em Arquitectura e Áreas Metropolitanas) do
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Portugal. e-mail:vmdurao@gmail.com
RESUMO
Na antiguidade, o território onde Lisboa foi gradualmente crescendo e
tornando-se cidade, era formalmente muito diferente do actual porque o
rio Tejo o banhava em parte. As modificações de carácter natural, como
o assoreamento do próprio rio, tiveram importância na modificação do
território primigénio mas foi a criação, pelo homem, de espaços planos
nos terrenos baixos e lodosos onde chegavam ribeiras ao Tejo e sobre as
praias e margens do rio que proporcionou tão grande e significativa
transformação que se iniciou há mais de dois milénios.
A formação/transformação do território teve influência significativa na
identidade de Lisboa que já nos séculos XIV-XV se consolidou como
assentamento portuário e de comércio marítimo, para o que muito
contribuiu a formação ao longo do rio, de amplos espaços planos aptos a
essas utilizações. Os espaços planos criados por aterros, tiveram uma
efectiva transcendência sobre a forma urbana ao modificar a forma do
próprio suporte – o território, que em vez de enseadas e pequenas
praias, foi sendo transformado numa plataforma que relegou a cidade
para o interior com pouco contacto com o rio, apesar de possibilitar
muitos e diversificados usos que facilitaram por sua vez a contínua
readaptação da cidade enquanto se afirmava no plano político,
económico, ao nível nacional e internacional.
A frente ribeirinha, criada fora das muralhas, como espaço de mediação
entre a cidade e o rio, tem desde a sua formação características
ambíguas, que conduzem a compreendermos este espaço como sendo
simultaneamente da cidade e do rio. Estas características mantêm-se na
actualidade, porque as muitas transformações formais e de usos que ao
longo do tempo aqui se verificaram não alteraram esta característica
genética, até a vincaram, devido à actual separação entre a cidade e o
rio que é realizada pela linha do caminho-de-ferro e avenida
ribeirinha, representantes actuais das muralhas da cidade. Isso
diferencia-a da Baixa de Lisboa que apesar de ter nascido também fora
das muralhas foi integrada na cidade pelo crescimento da urbe nas
colinas envolventes, pelo fecho da muralha da ribeira e por se
consolidar o seu tecido urbano que, ao longo do tempo, alteraram tanto
o seu carácter de arrabalde que a transformaram no centro da cidade
antiga e no espaço de excelência da cidade.
Na actualidade, a frente ribeirinha é apreciada pela qualidade urbana e
amplitude de vistas que proporciona, pela identidade que fortalece,
pelo valor simbólico que lhe é intrínseco, pela sua própria história,
pelas funções portuárias, comerciais, lúdicas e turísticas que
possibilita mas continua a não ter uma relação de proximidade com a
cidade devido à existência da linha de caminho-de-ferro e de vias de
grande fluxo de tráfego na sua frente que os planos de melhoramentos da
frente ribeirinha não resolvem por não estabelecerem a permeabilidade
necessária.
Palavras-chave: Análise Urbana, Arquitectura, Urbanismo, Baixa de Lisboa, Frente Ribeirinha
ABSTRACT
The
territory, in which Lisbon grew up and later became a city, was in
Antiquity quite different from its present form, mostly because it was
partly flooded by the river Tagus. The natural changes, such as the
silting up of the river itself, were important in modifying the
original territory but it was the construction of landfills by man, on
muddy and low grounds where the brooks flowed in Tagus and on the
beaches and river banks, that eventually led to a large and significant
transformation that began as far as two millennia ago.
Classification of landfill areas result of the crossing of information
from the areas where it took place with construction periods. Landfills
started in sludge lands located in the downtown creek, later over the
beaches and since the end of the 19th century, over the river itself.
This practice allowed the creation of plain and vast public areas,
managed by the central or municipal administration. Since the 14th
century or earlier, this allowed to adapt the city at a functional
level to the objectives of the creation of an important hub for
international maritime trade, taking advantage of Lisbon’s excellent
location. This was a persistent achievement carried on by many
generations with a main objective: the political, economical and urban
adaptation of Lisbon to the permanent changes in society.
The transformation of the territory had a significant influence on the
identity of Lisbon, that was established as port and place of maritime
trade since the 14th and 15th centuries. The plain and vast spaces
suitable for such uses along the Tagus estuary had a decisive role in
this. In fact, that spaces created by landfill had an actual
transcendence on the urban form by modifying the shape of their
physical basis – a territory in which the hills, creeks and small
beaches were transformed into a platform that has relegated the town to
the countryside with little contact with the riverfront, although
allowing many and diverse uses that in turn make possible the
continuous upgrading of the city that, at the same time, was
consolidating itself at a political and economical level, both
domestically and internationally.
The riverfront, outside the walls, while a mediator between the city
and the river, has had since its formation ambiguous characteristics
that lead to understand this space as belonging both to the city as to
the river. These characteristics remain at present because many changes
of form and uses that over time have been noticed here did not alter
this genetic trait, they actually emphasized it due to the current
separation between the city and the river which is made by the railway
and riverside avenue, the today’s replicas of the erstwhile city walls.
This differentiates it from the downtown city centre that despite being
also born outside the walls was integrated into the city by its growth
in the surrounding hills, by the river’s walls enclosure and by the
consolidation of its urban framework that, over time, altered so deeply
its character of suburbs that have transformed it into the old city
centre and in the city’s place of excellence.
Today, the riverfront is appreciated because of its urban quality and
the extent of views that provides, the identity that strengthens, the
intrinsic symbolic value, its own history and, ultimately, by the port,
commercial, recreational and touristic activities it provides, despite
the ambiguity enclosed in this space.
However, the Lisbon riverfront and the downtown area are built on
landfill terrains which are among the most dangerous places as far as
environmental risks are concerned, as demonstrated in the 1755
Earthquake which destroyed part of the city’s buildings and was
followed by a tsunami which went through all of the downtown area and
was the main cause of death of most of the population. On the one hand,
it is necessary to continue to expand the city to these areas, as it
happened recently with the 1998 Lisbon World Exposition, on the other
hand, it is fundamental that such expansion takes caution and minimizes
the impact on the fragile riverfront areas.
There is a close relationship between the human accomplishments and the
territories where such accomplishments take place. In riverfront or
coastal systems and other sensitive areas of the territory, such a
relationship becomes more difficult to achieve in a sustainable way but
it is also more necessary because of the natural constraints. Both the
downtown area and the riverfront where built at a time when knowledge
was very different from nowadays and the risks where not perceived in
the same way, even with the knowledge that existed at the time.
Currently, the intervention in this areas must take into account the
concern to decrease the environmental risks, which must take place at a
monitoring level, by taking precaution on the interventions, namely on
buildings, and also by taking action to help reduce detected problems.
It is a culture of balance between the constructive aspects of the
territory, the environmental risks and the high historic value of the
urban spaces and buildings, a heritage which is the symbol of Lisbon in
the world.
Keywords: Urban analysis, Architecture, Urbanism, Downton Lisbon, Riverfront
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