Título:
Águas de escorrência de estradas – Características específicas detectadas em Portugal
Resumo:
As águas de escorrência de estradas (AEE) podem originar impactes ambientais significativos, geralmente do tipo cumulativo, no meio hídrico e no solo. Nos pavimentos rodoviários acumulam-se poluentes originados pela circulação rodoviária, pelos materiais de construção da estrada e, ainda, da envolvente. Em Portugal, não se verifica uma prática instituída de monitorização das AEE, nem de implantação e manutenção de sistemas de tratamento. Contudo, esta é uma matéria que crescentemente tem merecido a atenção das entidades associadas à concepção/construção/operação de estradas e à protecção do ambiente. A partir de alguns casos de estudo realizados em Portugal nos últimos anos e publicados até à data, já existe algum conhecimento das características nacionais das AEE. À semelhança de estudos internacionais, em Portugal, os metais pesados têm merecido especial atenção na monitorização das AEE. Os SST e os parâmetros medidos in situ condutividade e pH, também têm sido sistematicamente considerados. Estão disponíveis menos dados relativamente à matéria orgânica e nutrientes. A salinidade, a dureza e os cloretos só foram determinados mais sistematizadamente no estudo do IP 5. A investigação realizada até à data, traduz um paralelismo geral com estudos realizados internacionalmente. Não é evidente um padrão típico das características das AEE com o tipo de rodovia (incluindo tráfego médio diário), quantidade de precipitação, práticas de manutenção ou meio envolvente. As AEE têm uma concentração relativamente reduzida na maioria dos parâmetros. Porém, a sua descarga continuada no meio hídrico ou no solo, tende a originar a sua acumulação no meio receptor, despoletando eventuais impactes ambientais. Algumas das AEE monitorizadas em Portugal, apresentam características específicas associadas a contextos particulares, ainda não referenciadas na bibliografia internacional. Em algumas rodovias verifica-se uma concentração mais elevada de zinco. Esta concentração, para além das origens comuns deste elemento nas AEE, parece estar associada às guardas de segurança metálicas. De facto, em todos os estudos onde a concentração de zinco é mais elevada, os troços rodoviários monitorizados têm implantadas guardas de segurança deste tipo. Da análise dos estudos realizados, parece evidente que a concentração de zinco tende a decrescer, a partir da data de início de exploração da estrada, até se aproximar dos valores comuns para este elemento nas AEE. Num dos últimos estudos de monitorização de AEE realizados, sobressaiu uma especificidade muito particular, que parece ser de relevante técnico-científico. Na monitorização das AEE do IP 5, foi detectada uma salinidade elevada. Este facto deverá estar associado com o transporte de massas de ar do oceano e com a brisa marinha. Os sais marinhos são depositados e acumulados no pavimento do IP 5 entre eventos de precipitação, cristalizando durante os períodos secos, o que poderá gerar mudanças na qualidade das AEE e ter, inclusive, efeitos na estrutura do pavimento. Por si só, a salinidade elevada não parece ter impactes no meio hídrico receptor, porém ela pode originar uma maior solubilização e mobilização dos metais pesados e ter reflexos numa concentração mais significativa da matéria orgânica. Em Portugal, os dois estudos de monitorização realizados no Túnel da Gardunha (IP 2) também obtiveram conclusões não referenciadas internacionalmente. A este nível, saliente-se os efeitos que a ventilação (natural e forçada) desta estrutura poderá ter na menor acumulação de poluentes no interior do túnel. Parece que a poluição “gerada” nos túneis rodoviários tenderá a depositar-se nos troços exteriores e adjacentes aos extremos destes . De modo sistematizado, as características das AEE e potenciais impactes ambientais devem ser assumidos no planeamento, projecto, construção e exploração/manutenção de rodovias. Este facto é mais evidente quando as rodovias interceptarem meios ambientalmente sensíveis ou vulneráreis. As características específicas das AEE detectadas em Portugal de evidente interesse científico devem merecer uma investigação aprofundada.
Autores:
P. A. Antunes, A. E. Barbosa