Alterações Climáticas! A Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas define “mudança climática” como aquela que resulta direta ou indiretamente das atividades humanas. E como nos temos portado?
Sabe-se hoje que a concentração atmosférica de CO2 aumentou 31% desde 1750, alguns estudos ainda nos dizem que os Gases de Efeito de Estufa, nomeadamente os valores das concentrações de CO2 são os mais altos dos últimos 420 000 anos, 75% desse aumento nos últimos 40 anos. A temperatura média global da atmosfera aumentou 0,6 a 0,8ºC no Séc. XX provocando um aumento do nível médio do mar entre 10 a 20 cm.
O clima em Portugal Continental é bastante peculiar, característico dos climas mediterrânicos, em que apesar do seu tamanho consegue apresentar níveis de precipitações dos mais elevados, tendo por isso uma das zonas mais húmidas da europa, até aos mais diminutos, como o sudoeste alentejano. Estudos indicam-nos que em 2080 poderá a precipitação no Alentejo diminuir em 15%!
E os recursos hídricos?
Sabemos que as necessidades de águas anuais são da ordem dos 10 000 hm3/ano. E de hoje para a frente como será? Será que em 2100 teremos um decréscimo na Bacia do Guadiana de escoamento na ordem dos 60%? Ir-se-á a qualidade da água de um modo geral degradar-se? Teremos capacidade de irrigação com a diminuição dos caudais a sul, principalmente no verão, para a agricultura?
Atualmente 75% da população portuguesa vive na zona costeira e esse valor cresce a cada dia. 85% do produto interno bruto (PIB) é aí gerado, havendo com isso um aumento dos conflitos de interesse entre as várias atividades sócio-económicas e a manutenção dos ecossistemas costeiros e a preservação da biodiversidade. O aumento do risco de inundações associadas a tempestades e à deslocação de zonas húmidas, à aceleração da erosão costeira, para além do risco de intrusão salina nos aquíferos de água doce e à penetração de água salgada nos estuários são duros fatos.
Tudo isto nos leva a questões ainda mais importantes:
- Como está o planeamento e a gestão dos recursos hídricos em Portugal?
- Teremos capacidade de responder aos impatos das alterações climáticas que as previsões e tendências nos indicam?
- Temos adoptado a política correta da água?
- Será que devemos continuar a utilizar afincadamente o tradicional registo histórico como um bom indicador das futuras condições climáticas ou devemos considerar a mudança climática como um fator de decisão?
- Devemos, todos, sociedade civil e principalmente científica alterar profundamente a filosofia da gestão da água?
- O ciclo urbano da água deverá passar a ser olhado pela sociedade civil e principalmente pelos agentes das administrações locais e centrais como um dos principais fatores do desequilíbrio, juntamente com a agricultura, na gestão da água?
- Temos tido a capacidade de tomar as decisões corretas para no futuro realçar a importância de políticas de planeamento de gestão da água assentes num conhecimento profundo dos recursos hídricos? Se não, onde estamos a falhar?
- Temos sabido gerir e explorar com complementaridade os recursos hídricos superficiais e subterrâneos, à medida das necessidades e com uma utilização criteriosa da água? Ou pelo contrário, vamos todos atrás da massificação do betão, para mostrar obra?
- Temos sabido proteger o nosso recurso subterrâneo responsavelmente?
- Será possível continuarem as entidades que tutelam o recurso água, nomeadamente os recursos hídricos subterrâneos, a atrasarem a confirmação e validação dos tão falados, mas esquecidos, perímetros de protecção?
- Temos sabido adoptar para as zonas costeiras em Portugal e sempre que possível medidas de protecção suaves com a alimentação das praias com areia?
- Temos dado a atenção devida, nas zonas costeiras, ao aumento das probabilidades de inundação, risco de cheias e a consequente avaliação dos custos envolvidos?
- Temos verdadeiramente implementado o conceito do utilizador – pagador e do poluidor –pagador?
As IV Jornadas dos recursos Hídricos não tiveram a leviandade ou o altruísmo de obter respostas a todas as questões pertencentes aos trabalhos delineados para este dia, contudo sabemos que muitas delas serão debatidas no futuro, como o foram neste dia, e esperamos futuramente replicadas. As consequências das alterações climáticas nos recursos hídricos e tudo o que provocarão no futuro nos patamares socio-económicos são demasiadamente importantes para serem constantemente negligenciadas pela sociedade em geral.
Paulo Jorge Delgado Chaveiro
(Presidente da direcção do Núcleo regional do Sul da APRH)
Sessão 1. Risco, Incerteza e Adaptação
Risco e vulnerabilidade (PDF) | Betâmio de Almeida (Técnico)
Os novos cenários socio-económicos e climáticos do IPCC (PDF) | Filipe Duarte Santos (FCT, UNL)
Estratégia nacional de adaptação às alterações climáticas (PDF) | José Paulino (APA, I.P.)
Sessão 2. O Ciclo Hidrológico
Alterações nas características climatológicas e hidrológicas (PDF) | João Corte Real (UÉ)
Caracterização e risco de secas (PDF) | João Filipe Santos (IPBeja)
A importância da monitorização e modelação (PDF) | Maria Manuela Portela (Técnico)
Sessão 3. Um clima em mudança: Casos de estudo
Planeamento de segurança no ciclo urbano da água (PDF) | Maria do Céu Almeida (NES, LNEC)
Adaptação climática em sistemas urbanos de água (PDF) | Helena Lucas (Águas do Algarve, S.A., AdP)
Hidroeletricidade: A perspectiva da EDP (PDF) | Virgílio Mendes (EDP Produção, EDP)
Zonas costeiras: Impactos e adaptação (PDF) | Gabriela Muniz (APA, I.P.)
Projeto Terraprima: Fundo Português de Carbono (PDF) | Tatiana Valadas (Técnico)
Sessão 4. Enquadramento económico e energético
Impacto potencial na economia da água (PDF) | Pedro Afonso Fernandes (Consultor independente)
Estratégias energéticas (PDF) | João Bernardo (DGEC)